quinta-feira, 12 de julho de 2012

Projeto Surrar as Gônadas

Tenho, na verdade, vários projetos. Acho difícil que consiga realizar todos, mas ainda não sei exatamente com quantos deles concluídos eu me daria por satisfeito. Quero ir daqui até Montevidéu. E de lá a Santiago. E de lá a Fairbanks, Alasca, ponto mais ao norte das Américas acessível por estradas. Neste ínterim, faria a Highway 1, magnífico caminho que acompanha a costa californiana e tem seu mais lindo trecho entre Los Angeles e San Francisco, a cidade em que, escrevam, um dia estabelecerei residência e assim será até o fim dos meus dias, sem embargo de eu já ter percorrido este caminho de carro mais de uma vez. Mesmo de carro quero fazê-lo mais vezes. Em todo o caso, nos EUA, valeria a pena também cumprir a Route 66 - brega, né? Mas foda-se. Mais para cima, havendo trilhas ou não, sairia de Thunder Bay, na extremidade oeste - Lakehead - do Lago Superior, e iria até a foz do Rio São Lourenço, passando, no caminho, entre tantos outros locais ao longo de todos os Grandes Lagos, é claro, pelas Cataratas do Niágara, onde compraria a capa amarela e berraria para o Pica Pau descendo-as num barril. Todos estes roteiros eu planejo realizar, é claro, a viagens de bicicleta, como o título deste registro sugere.

No Velho Continente, há praticamente infindáveis opções: a trilha de bicicleta do Rio Danúbio, por exemplo, que se estende por mais de 600 Km. Com trilha ou não, eu gostaria mesmo é de percorrer o Danúbio da nascente ao delta no Mar Negro. Esta viagem certamente é uma aula viva de história, geografia e geologia, o que deve ser verdade também para o Rio Reno, que é outro que eu gostaria de percorrer. Esses dois cursos d'água, que serviram como fronteiras naturais para o Império Romano, têm registrada em suas margens alguns dos principais capítulos da história da Europa e da civilização ocidental em geral, portanto. Geologicamente, também são interessantíssimos, pois a erosão mais intensa causada pelas águas mais altas do Reno em relação às do Danúbio eventualmente fará com que as atuais nascentes - incluídas as de alguns tributários - do Danúbio serão arrebatadas pelo Reno. Percorrendo uma e/ou outra dessas rotas, eu interromperia a viagem no tributário correspondente e subiria até o Piz Lunghin, montanha no Cantão suíço de Grisões, da qual brotam nascentes de diversos rios. O especial a respeito dela é que uma desssas nascentes é de um afluente do Danúbio, que, como já dito, deságua no Mar Negro; outra, de um subafluente do Reno, que deságua no Mar do Norte, que não deixa de ser uma parte do Oceano Atlântico; e um outro rio que ali nasce eventualmente despeja suas águas no Pó, principal rio da Itália que deságua no Mediterrâneo. A propósito, por que não, percorreria o Pó todo montado na magrela, também.

Na Itália, terra da maior parte dos meus ancestrais, então, eu me esbaldaria enquanto meus testículos seriam pressionados contra o selim até ficarem do tamanho de tâmaras ressecadas. Em Pompéia e no Vesúvio eu acho que ficaria passeando um dia inteiro em cada um. Visitaria a abençoada terra e os parentes vivos do meu avô, na Comuna de Pedrengo, Província de Bérgamo - eis aí a origem do meu nome! - na Região da Lombardia, onde também fica, a aproximadamente 100 Km dali, atravessando Milão no sentido sudoeste partindo de Bérgamo, a linda Comuna de Vigevano, terra dos avós da minha esposa, na Província de Pavia. Entraria na Região de Trentino Alto Adige, vergonhosamente surrupiada da Áustria ao final da Primeira Guerra Mundial, e escalaria - de bicicleta! - a montanha na fronteira moderna com a Áustria onde está localizado o ponto mais setentrional da Itália. Acho que apanharia se inventasse de andar por Veneza de bicicleta, mas em Florença eu acho que eu não teria problemas. Esta a cidade que eu visitaria tanto pelos mesmos motivos que levam milhares de turistas para lá todo ano como em deferência à comédia Amici Miei, especialmente o segundo filme - Atto Due - do Mario Monicelli, um dos meus filmes favoritos, em que nada mais, nada menos que Philippe Noiret e Adolfo Celi roubam a cena, sem falar no Ugo Tognazzi. Não esqueci Roma; é óbvio que eu passaria por lá. Veria com vagar todos os locais de interesse histórico, faria um retiro de estudos sobre o Império Romano, que eu nunca tive oportunidade de estudar a fundo, e andaria de bicicleta na Cloaca Maxima.

Geográfica e geopoliticamente, hoje, a Grã-Bretanha não tem nada que ver com Roma. Mas já teve. Por isso e, de novo, pela mesma infinidade de razões que levam hordas de turistas para lá todos os anos, eu também iria para lá de bicicleta. E perderia mais tempo na Escócia. Tudo bem que pode ser uma contradição biológica, mas dane-se: sim, eu faria o tour das destilarias - me lixando para a dificuldade de pedalar nas Highlands - de bicicleta! E de lá eu iria para a Ilha de Man, cronometrar o tempo que eu levaria pedalando o trajeto percorrido todo ano na mais perigosa corrida de motocicleta de que se tem notícia. De moto de competição, parece que a volta dura 21 minutos. Sabe-se lá quanto raios eu conseguiria fazer isso de bicicleta! Ah, sim, quase me esqueço, na Escócia, antes de ir para Man, eu teria que ter ao menos noções básicas de gaita de fole. Tocar gaita de fole é um projeto paralelo e talvez até mais complexo do que os roteiros de bicicleta, mas eu morreria um pouquinho menos feliz do que eu acho que eu mereço se não aprender a tocar.

Salvo grossos contratempos, os registros de preparação para o Projeto Surrar as Gônadas serão diários. Cabem os parênteses: proposta ousada para quem não lançava nenhum registro desde fevereiro. Aguardem-me. Pretendo documentar cuidadosamente cada um desses roteiros, por fotos, filmes e, é claro, pelos meus Registros Esparsos. Enfim, por preparação entenda-se tanto física quanto logística. A física, hoje, aliás, tropeçou: não consegui ir à academia hoje... Mas já adianto como venho treinando: hipertrofia iniciante para ganhar potência muscular e diminuir o percentual de gordura e treinos de corrida para desenvolver a parte aeróbica. Também pedalo nos dias em que não tenho treinos de corrida, mas pego pesado mesmo neste quesito nos treinos direcionados. Está certo que não há fotos minhas aqui, mas tenho que me utilizar da expressão "por incrível que pareça" para afirmar que estou, aos 32 anos de idade, na melhor forma da minha vida. Depois do meu primeiro check up, há quase um ano, que apontou que eu estava "fofo" e com alguns indicadores não muito bons, especialmente colesterol alto, resolvi mudar meus hábitos alimentares e intensificar a atividade física. A alimentação é uma Dieta Gracie não radical, em que tento seguir ao menos suas linhas mestras. Nessa brincadeira, perdi, desde lá, 15 Kg. Falando em Gracie, os treinos de jiu jitsu farão parte da minha rotina de preparação, apesar de serem, em si, outro projeto autônomo.

Espero que gostem dos meus relatos e que torçam por mim!

2 comentários:

  1. CARALHO!

    Meu roteiro de viagem pela Itália está parecido (óbvio que sem bicicleta).

    No entanto, esquecimentos imperdoáveis:

    1) Ida a Maranello com obrigatória visita à fábrica da Ferrari (o que farei na minha viagem, claro), e;
    2) Complementar a (1) acima, assistir ao GP da Itália de F1 em Monza (o que, infelizmente, não farei desta feita).

    Fora isso, boa sorte.

    Abs

    ResponderExcluir
  2. Embora o roteiro seja só um esboço, minhas omissões foram realmente imperdoáveis. Incorporadas estão ao projeto! Valeu!

    ResponderExcluir