quarta-feira, 18 de julho de 2012

The Birdcage

Esses dias eu fui realizar um serviço numa cidadezinha do interior. Traje circense completo, terno e gravata, como de praxe. Findo o ofício, caía a tarde e eu avistei um botequim bem simples, estrategicamente localizado - ou seja, do outro lado da rua da Prefeitura e dividindo muro com uma funerária, cujo nome fantasia, salvo engano, era "Descanse em Paz" - e ousei entrar.

O botequim era pequeno e simpático, descrição apta também à única atendente de prontidão. A cidade não é tão pequena assim, mas aparentemente era provinciana o suficiente para que a mocinha tratasse com óbvia deferência, além, é claro, de muito boa educação, qualquer forasteiro que chegasse trajando terno e gravata. Sei lá, bobear nem o prefeito do lugar deve usar terno, então, pintei lá assim vestido e fui confundido com alguém importante.

A moral desta crônica terá que ser apresentada antes do final, porque acho que vai ficar mais interessante eu contar o que então se sucedeu não sob o formato de narrativa, mas sim reproduzindo tanto quanto possível, parafraseando na pior das hipóteses, o diálogo que travei com a menina. Enfim, independentemente da necessidade de incrementá-las, preciso escolher melhor os alvos das minhas piadas.

Ao diálogo.

"Boa tarde!"
"Boa tarde, doutor!"
"Você tem cafezinho expresso?"
"Tem sim, doutor."
"Então, pelo amor de Deus."
"Um minutinho só, doutor."
"Muito obrigado."

Ela então me serviu o cafezinho, eu tomei, paguei e continuei sentado numa das mesas, onde abri meu celular e comecei a tentar puxar meus emails.

"Você se incomoda se eu ficar aqui um pouquinho?"
"Não, doutor, o senhor pode ficar à vontade."

Ao terminar de ver os emails - surpreendentemente, o sinal estava bom - fiz a gentileza de levar o pires e a xícara até o balcão e não resisti:

"Você está aí me chamando de doutor só porque eu estou de terno e gravata?! Quem te garante que eu não sou dono de boate gay?!"

E aí a menina, coitadinha, arregala os olhos, sobe as sobrancelhas até o couro cabeludo e fala baixinho:

"Ai, o senhor é dono de boate gay, doutor?"
"Não, filha..."

Tenho que aprimorar os alvos das minhas piadas. c.q.d.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Danúbio não é azul

Bom, comecemos com as justificativas. Primeiro, já descumpri minha promessa de postar diariamente. Por incrível que pareça, acabo tendo menos tempo para isso aos finais do que durante a semana. Rogo que me perdoem, sobretudo porque não farei postagens meia-boca só para cumprir cronograma. Se tenho veia artística ressaltada ou não, julguem-me vocês, mas minhas obras, sejam profissionais ou amadoras, são artesanais. Nem sempre vingam, como qualquer empresa humana, mas eu procuro sempre fazer o melhor com qualquer coisa que efetivamente me proponho a fazer. Como este blog. A outra justificativa é em relação à lamentável omissão do meu projetado roteiro italiano de uma passagem por Maranello, com visita à sede da Ferrari, seguida do Grande Prêmio de Monza de Fórmula 1 - o que significa que eu terei que fazer o roteiro num mês de setembro. Já respondi ao comentário correlato à minha primeira postagem do PROSUGO, mas elaboro melhor o meu pedido de desculpas aqui, ressaltando que tentarei, sob permissão de quem de direito, é claro, ingressar em Maranello pela entrada da cidade interditada pelos tiffosi em razão do Gilles Villeneuve ter marcado o asfalto ali depois de uma arrancada com a sua Ferrari de passeio.

Adiante. Calha que minha ideia de percorrer a trilha ciclística do Rio Danúbio não é exatamente original: uma curta pesquisa, que foi o que tive tempo de fazer, me informou que se trata de uma dos roteiros mais populares de verão entre os próprios europeus. Mas que se dane. Eu não quero simplesmente passear, eu quero e vou também estudar, documentar, entrevistar e absorver o máximo de informação possível acerca da história, geografia e geologia do curso d'água. Escrevendo isto, me ocorre que este é um assunto que me fascina desde garoto. Eu já era chato e caxias - talvez mais do que sou hoje - e era indignado desde que me dei por gente com a poluição dos Rios Tietê e Pinheiros. Não entendia como se deixava que eles fossem tão sujos. Não tinha, obviamente, discernimento para entender o que era uma ocupação imobiliária irregular, nem do uso político que se faz delas, nem, portanto, da inexistência de vontade política e da própria população envolvida em acabar com elas e em investir em saneamento básico, pois isso acabaria com os gatos no esgoto e na água encanada, etc., etc., etc. Mas fosse pelo que fosse, não gostava de ter cursos d'água tão caudalosos e poluídos na minha cidade. Hoje, a geografia - a hidrografia, particularmente - me intriga mais, pois é meio louco pensar que um filete de água que brota dos cafundós do meio do mato em Salesópolis vai virar um rio imponente que vai acabar por banhar Buenos Aires e Montevidéu. E se isso é verdade para o coitadinho do Tietê, que não tem trilha nenhuma que eu consiga seguir civilizadamente da nascente à foz, também o é para o glamouroso Danúbio, embora ele seja marrom - por barrento, não poluído, ao menos no trecho em que eu o conheci, em Budapeste - não azul, como sugeriu Strauss em sua eterna valsa. O que não o impede de ser um belíssimo e encantador rio.

Preciso ainda levantar muito mais informações sobre os preparativos necessários para uma excursão dessas, mas a boa notícia é que há uma infinidade de sites, alguns aparentemente muito elucidativos, sobre o tema. É questão de tempo até que eu consiga sorver tudo o que preciso saber. Fora isso, ainda também sou bizarramente leigo acerca de bicicletas propriamente ditas. A única coisa que sei é que gosto muito de pedalá-las! Entretanto, tenho muito o que aprender sobre os melhores tipos e modelos de bicicleta para os meus objetivos, manutenção, preservação e segurança, seja relacionada à minha própria integridade física, ou seja, proteção contra acidentes, como da própria bicicleta, ou seja, se há possibilidade de eu fazer seguro da gloriosa magrela. Eu espero que sim; sou um entusiasta de fazer seguro, o que pode decorrer da realidade da segurança pública deste tosco País.

Termino mudando um pouco o assunto para o também projetado roteiro escocês, isto porque uma das razões pelas quais eu não consegui escrever durante o final de semana foi a exibição do filme Coração Valente em algum dos canais da TV a cabo - o que me prontificou a assistir ao filme pela enésima vez. O filme tem uma fotografia fantástica, o argumento é bastante dramatizado em comparação com os eventos históricos e o resultado final, na minha modesta opinião, é muito bom. A pancadaria no melhor estilo - literal - sangue na tela ajuda, é claro. O que eu gostaria de registrar neste ponto, no entanto, é a curiosidade em relação ao álbum Tunes Of War lançado pela banda alemã Grave Digger mais ou menos na época do filme. Os desavisados podem crer que eles se inspiraram no filme, mas não é verdade. O Grave Digger, liderado pelo sex symbol elevado a menos um que é o Chris Boltendahl, realizou diversos álbuns épicos, cujas músicas contavam uma estória só, com começo, meio e fim. O Tunes Of War focou as guerras de independência da Escócia e o resultado agradou tanto os nacionais daquele país que a banda chegou a ser oficialmente adotada pelo clã de Cavanaugh. Enfim, fã de heavy metal e de história como sou, sem embargo da presepada de me locomover de bicicleta de destilaria a destilaria, aproveitarei os momentos de sobriedade para percorrer os palcos das clássicas batalhas de Stirling Bridge, Falkirk e Culloden Muir, por exemplo, e aprender e documentar um pouco mais da interessante história da Escócia e das Ilhas Britânicas em geral.

Sigam-me os parcamente ajuizados!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

PROSUGO: Dia 2

No quesito preparação física, a coisa hoje desandou: não só não fui treinar - verdade seja dita, por falta de tempo - como fui comer uma pizza. Amanhã, no entanto, é um novo dia e eu vou treinar, não importa o frio que faça. Eu, afinal de contas, gosto muito do frio.

Por hoje, para não ficar sem nenhum registro, consigno que empreenderei pesquisas que me auxiliarão no quesito logística, como buscar informações mais precisas sobre a trilha do Danúbio e também vou dar uma olhada em modelos de bicicleta. Eu ainda preciso comprar a minha!

Amanhã eu apontarei aqui os resultados desse meu início de pesquisas e reportarei o rendimento do treino. Uma boa noite a todos.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Projeto Surrar as Gônadas

Tenho, na verdade, vários projetos. Acho difícil que consiga realizar todos, mas ainda não sei exatamente com quantos deles concluídos eu me daria por satisfeito. Quero ir daqui até Montevidéu. E de lá a Santiago. E de lá a Fairbanks, Alasca, ponto mais ao norte das Américas acessível por estradas. Neste ínterim, faria a Highway 1, magnífico caminho que acompanha a costa californiana e tem seu mais lindo trecho entre Los Angeles e San Francisco, a cidade em que, escrevam, um dia estabelecerei residência e assim será até o fim dos meus dias, sem embargo de eu já ter percorrido este caminho de carro mais de uma vez. Mesmo de carro quero fazê-lo mais vezes. Em todo o caso, nos EUA, valeria a pena também cumprir a Route 66 - brega, né? Mas foda-se. Mais para cima, havendo trilhas ou não, sairia de Thunder Bay, na extremidade oeste - Lakehead - do Lago Superior, e iria até a foz do Rio São Lourenço, passando, no caminho, entre tantos outros locais ao longo de todos os Grandes Lagos, é claro, pelas Cataratas do Niágara, onde compraria a capa amarela e berraria para o Pica Pau descendo-as num barril. Todos estes roteiros eu planejo realizar, é claro, a viagens de bicicleta, como o título deste registro sugere.

No Velho Continente, há praticamente infindáveis opções: a trilha de bicicleta do Rio Danúbio, por exemplo, que se estende por mais de 600 Km. Com trilha ou não, eu gostaria mesmo é de percorrer o Danúbio da nascente ao delta no Mar Negro. Esta viagem certamente é uma aula viva de história, geografia e geologia, o que deve ser verdade também para o Rio Reno, que é outro que eu gostaria de percorrer. Esses dois cursos d'água, que serviram como fronteiras naturais para o Império Romano, têm registrada em suas margens alguns dos principais capítulos da história da Europa e da civilização ocidental em geral, portanto. Geologicamente, também são interessantíssimos, pois a erosão mais intensa causada pelas águas mais altas do Reno em relação às do Danúbio eventualmente fará com que as atuais nascentes - incluídas as de alguns tributários - do Danúbio serão arrebatadas pelo Reno. Percorrendo uma e/ou outra dessas rotas, eu interromperia a viagem no tributário correspondente e subiria até o Piz Lunghin, montanha no Cantão suíço de Grisões, da qual brotam nascentes de diversos rios. O especial a respeito dela é que uma desssas nascentes é de um afluente do Danúbio, que, como já dito, deságua no Mar Negro; outra, de um subafluente do Reno, que deságua no Mar do Norte, que não deixa de ser uma parte do Oceano Atlântico; e um outro rio que ali nasce eventualmente despeja suas águas no Pó, principal rio da Itália que deságua no Mediterrâneo. A propósito, por que não, percorreria o Pó todo montado na magrela, também.

Na Itália, terra da maior parte dos meus ancestrais, então, eu me esbaldaria enquanto meus testículos seriam pressionados contra o selim até ficarem do tamanho de tâmaras ressecadas. Em Pompéia e no Vesúvio eu acho que ficaria passeando um dia inteiro em cada um. Visitaria a abençoada terra e os parentes vivos do meu avô, na Comuna de Pedrengo, Província de Bérgamo - eis aí a origem do meu nome! - na Região da Lombardia, onde também fica, a aproximadamente 100 Km dali, atravessando Milão no sentido sudoeste partindo de Bérgamo, a linda Comuna de Vigevano, terra dos avós da minha esposa, na Província de Pavia. Entraria na Região de Trentino Alto Adige, vergonhosamente surrupiada da Áustria ao final da Primeira Guerra Mundial, e escalaria - de bicicleta! - a montanha na fronteira moderna com a Áustria onde está localizado o ponto mais setentrional da Itália. Acho que apanharia se inventasse de andar por Veneza de bicicleta, mas em Florença eu acho que eu não teria problemas. Esta a cidade que eu visitaria tanto pelos mesmos motivos que levam milhares de turistas para lá todo ano como em deferência à comédia Amici Miei, especialmente o segundo filme - Atto Due - do Mario Monicelli, um dos meus filmes favoritos, em que nada mais, nada menos que Philippe Noiret e Adolfo Celi roubam a cena, sem falar no Ugo Tognazzi. Não esqueci Roma; é óbvio que eu passaria por lá. Veria com vagar todos os locais de interesse histórico, faria um retiro de estudos sobre o Império Romano, que eu nunca tive oportunidade de estudar a fundo, e andaria de bicicleta na Cloaca Maxima.

Geográfica e geopoliticamente, hoje, a Grã-Bretanha não tem nada que ver com Roma. Mas já teve. Por isso e, de novo, pela mesma infinidade de razões que levam hordas de turistas para lá todos os anos, eu também iria para lá de bicicleta. E perderia mais tempo na Escócia. Tudo bem que pode ser uma contradição biológica, mas dane-se: sim, eu faria o tour das destilarias - me lixando para a dificuldade de pedalar nas Highlands - de bicicleta! E de lá eu iria para a Ilha de Man, cronometrar o tempo que eu levaria pedalando o trajeto percorrido todo ano na mais perigosa corrida de motocicleta de que se tem notícia. De moto de competição, parece que a volta dura 21 minutos. Sabe-se lá quanto raios eu conseguiria fazer isso de bicicleta! Ah, sim, quase me esqueço, na Escócia, antes de ir para Man, eu teria que ter ao menos noções básicas de gaita de fole. Tocar gaita de fole é um projeto paralelo e talvez até mais complexo do que os roteiros de bicicleta, mas eu morreria um pouquinho menos feliz do que eu acho que eu mereço se não aprender a tocar.

Salvo grossos contratempos, os registros de preparação para o Projeto Surrar as Gônadas serão diários. Cabem os parênteses: proposta ousada para quem não lançava nenhum registro desde fevereiro. Aguardem-me. Pretendo documentar cuidadosamente cada um desses roteiros, por fotos, filmes e, é claro, pelos meus Registros Esparsos. Enfim, por preparação entenda-se tanto física quanto logística. A física, hoje, aliás, tropeçou: não consegui ir à academia hoje... Mas já adianto como venho treinando: hipertrofia iniciante para ganhar potência muscular e diminuir o percentual de gordura e treinos de corrida para desenvolver a parte aeróbica. Também pedalo nos dias em que não tenho treinos de corrida, mas pego pesado mesmo neste quesito nos treinos direcionados. Está certo que não há fotos minhas aqui, mas tenho que me utilizar da expressão "por incrível que pareça" para afirmar que estou, aos 32 anos de idade, na melhor forma da minha vida. Depois do meu primeiro check up, há quase um ano, que apontou que eu estava "fofo" e com alguns indicadores não muito bons, especialmente colesterol alto, resolvi mudar meus hábitos alimentares e intensificar a atividade física. A alimentação é uma Dieta Gracie não radical, em que tento seguir ao menos suas linhas mestras. Nessa brincadeira, perdi, desde lá, 15 Kg. Falando em Gracie, os treinos de jiu jitsu farão parte da minha rotina de preparação, apesar de serem, em si, outro projeto autônomo.

Espero que gostem dos meus relatos e que torçam por mim!