quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Roma

Eu tinha doze anos de idade quando a conheci, quando minha capacidade de diferenciá-la de Carapicuíba era bem pequena. Por isso, quando voltei depois de mais de vinte anos, eu considerei como uma nova primeira visita.

As boas impressões podem ser consideradas óbvias: a organização, a riqueza de informações, a história viva, a limpeza, a segurança e a boa educação (da grande maioria) dos locais com o turista. Más impressões, se houve, foram relacionadas às queixas que qualquer grande metrópole do mundo gera em qualquer um, por mais acostumado que seja à vida urbana.

Mesmo assim, meu queixo caiu. Eu esperava encontrar isso tudo, encontrei e fiquei bobo do mesmo jeito, o que talvez denuncie o quão quadrado e admirador da organização extrema eu seja. Mas mais do que isso, para um geógrafo/historiador sem título e completamente amador, é fascinante como a cidade estabelece conexões entre eventos históricos significativos à nação de que é capital e os tempos atuais, como ela demonstra que esse país cunhou todo o seu passado de forma a conduzi-lo à posição de proeminência e centro político e econômico da civilização humana, o qual ocupou até tempos bem recentes e sob influência de um passado que não lhe pertencia e influenciando ainda hoje o presente e o futuro de seus herdeiros geopolíticos.

Refiro-me à reverência e à solidez histórica e tradicional das suas instituições políticas. À politização do seu povo. E à riqueza das apresentações de tudo isso aos olhos de quem a visita.

Ali ainda é e continuará sendo pelo futuro visível, se não mais o centro geopolítico e econômico, o centro cultural do mundo. Ela representa o arcabouço da cultura ocidental, cujos expoentes políticos de hoje dominam o mundo economicamente, então, minha teoria se fecha. E isto porque a cidade, como capital e símbolo da nação que representa, aprendeu e aplicou as lições de seus conquistadores desde quando teve notícia de que a sua própria defesa dependia exclusivamente de si e não da metrópole. Londres saiu da sala de aula para se lançar além-mar, conquistar colônias e mercados, exportar o seu modo de vida e exercer a sua influência... e domínio. Lições estas que seus sucessores hoje aplicam da mesma forma com instrumentos modernos e uma pitada de megalomania, que só não se diz patológica, bem, porque dominam, mesmo, o mundo, goste-se disso ou não.

Não estou me referindo a Roma, mas sim a Londres. Mas o título deste texto se justifica na medida em que foi de Roma que Londres aprendeu a ser Londres e compreendeu que conquistar e crescer importava em se expandir e educar. Instalar a sua própria cultura sem esmagar a local, desenvolver e estabelecer mercados. Não que tenham sido completos gentlemen nesse exercício, pois muita gente morreu nas pontas de suas espadas e baionetas e pelas balas disparadas de seus mosquetes, porém, a estratégia certamente gerou melhores resultados que os das suas contrapartes colonizadoras europeias.

Um momento ou movimento de arrogância e subestimação causaram-na a perda de sua mais notável colônia, que seguiu seus passos e lhe substituiu como líder ostensivo. Mas, tudo bem. Londres e o Reino Unido de que é capital sabem que continuam representando e exercendo a liderança moral e valorativa que constituem os pilares das modernas e vigentes práticas econômicas e políticas. Gostem os estadunidenses disso ou não - agora é a vez deles de comer e não gostar - eles dominam o mundo por procuração. Nada mais londrino que a habilidade econômica americana, cujo sistema político republicano e presidencialista que funciona é a exceção que confirma a regra de que o melhor e mais funcional sistema é o parlamentarista - republicano ou monárquico.

Justamente, a monarquia é, talvez, a maior prova desta posição exercida por Londres, pois ela não tem mais quase nenhum poder de governo; a importância dela é simbólica, mas efetiva porque ela funciona como um garante da preservação e continuidade das instituições e da própria noção de ser britânico. Em outras palavras, ela não bate carimbos no dia-a-dia, mas está ali. Se tudo mais falhar, a monarquia estará lá para preservar o país e mantê-lo no prumo. Ela não manda porque não precisa.

Então, quem vai aos Estados Unidos, se diverte e se admira da potência que eles são e querem saber como era e como é onde tudo aquilo começou, que vá a Londres. E que não se engane, o centro da civilização continua sendo lá.